As ações e os agentes
Postado: 2 novembro 2017 12:47h
Autor: Hélcio Sampaio
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Os meios de comunicação nos mostram, diariamente, as mazelas de um mundo ainda de expiações e provas. Pelo noticiário, tomamos conhecimento dos descalabros da política dissociada da ética, da violência nas cidades, das paixões inferiores e suas nefastas consequências e das guerras que ceifam milhares de vidas, relegando milhões de famílias ao luto e ao desabrigo.

Não raro nos indignamos e, ainda que por breves momentos, nos deixamos dominar pela ira e revolta, emitindo contra nossos irmãos, autores e corresponsáveis por esses crimes e misérias, pensamentos negativos, que se estendem do justo clamor por justiça a condenáveis sentimentos de vingança, embora não tenhamos a intenção de levá-la adiante.

Sabemos que esses pensamentos, assim como os comentários ácidos e desairosos que emitimos, precisam ser evitados.  Já aprendemos que quanto mais elevadas as vibrações mentais e sentimentais, estaremos menos sujeitos às quedas do caminho, melhoraremos nossas companhias espirituais e mais felizes serão nossas jornadas na Terra; mas, como manter o equilíbrio, a paz interior e as vibrações de amor diante de tantas iniquidades?

Os espíritos superiores jamais compactuam com o mal ou se omitem diante dele. Jesus, nosso maior exemplo, usou sua energia para expulsar os vendilhões do templo, não perdeu a oportunidade de apontar como hipócritas os que sofismavam na tentativa de levá-lo a cair em contradição e não hesitou em utilizar sua imensa autoridade moral para afastar, de suas vítimas, espíritos malévolos e obsessores.

É preciso compreender, porém, que aqueles que vivem a plenitude do amor sabem diferenciar, perfeitamente, a ação e o agente. Sabem que, no estágio evolutivo do planeta, o mal ainda é inevitável. É a consequência natural das imperfeições humanas, usada como ferramenta de educação e regeneração individual e coletiva. Convivendo e suportando as imperfeições alheias, tomamos consciência da necessidade do próprio aprimoramento, em prol de um mundo melhor. Quanto aos agentes, cabe lembrar as palavras do Cristo no Evangelho de Mateus: “Ai do mundo por causa dos escândalos; pois é necessário que venham escândalos; mas ai do homem por quem o escândalo venha”.

Poderíamos imaginar que esse entendimento os faria passivos diante das misérias humanas. Ao contrário, o plano espiritual superior trabalha de modo ativo e incansável, evitando total ou parcialmente inúmeros planos urdidos nas mentes e corações daqueles que ainda não conhecem a luz, amenizando seus efeitos e amparando com amor as vítimas. Olham os agentes do mal com piedade. Não o fazem como nós, por conhecimento teórico da doutrina espírita. Fazem porque, por experiência própria, conhecem o esforço e as vicissitudes dos dolorosos processos regenerativos a que estarão sujeitos.

Portanto, diante das mazelas do mundo, troquemos a indignação pela oração. Roguemos ao Pai que nos ampare e nos proteja, que nos fortaleça a fé e amenize os sofrimentos humanos. Deixemos que a justiça Divina, na sua imensa sabedoria, trace os planos de reajuste para cada um de nós, que ainda gravitamos em torno das ilusões do poder, dos bens materiais e das paixões inferiores.

Hélcio Sampaio

Assim, pois, o Espiritismo se fundamenta em princípios gerais independentes de toda questão dogmática. É verdade que ele tem consequências morais, como todas as ciências filosóficas. O Espiritismo NÃO é, pois, uma religião. Do contrário, teria seu culto, seus templos, seus ministros. Sem dúvida cada um pode transformar suas opiniões numa religião e interpretar à vontade as religiões conhecidas, mas daí à constituição de uma nova igreja há uma grande distância e penso que seria imprudência seguir tal ideia. Em resumo, o Espiritismo ocupa-se da observação dos fatos e não das particularidades desta ou daquela crença; […]

— Allan Kardec, Revista Espírita, Maio/1859/ “Refutação de um artigo de “L ‘Univers”